A promoção da acessibilidade cultural tem impulsionado a criação de projetos que buscam garantir o acesso de todos ao patrimônio.
Nesse contexto, o “Salvador Pra Cego Ver” se estabeleceu como uma referência, influenciando outras iniciativas, como o “Passo Fundo Pra Cego Ver”.
Salvador Pra Cego Ver: Acesso ao Patrimônio Cultural
O projeto “Salvador Pra Cego Ver” foi concebido pela educadora Patrícia Silva de Jesus (Patrícia Braille) e pela produtora cultural Edmilia Barros.
Patrícia Braille é também autora do projeto #PraCegoVer, voltado à difusão da acessibilidade nas redes sociais. A finalidade do “Salvador Pra Cego Ver” é reapresentar a cidade de Salvador a pessoas com deficiência visual, utilizando a audiodescrição de imagens e vídeos que retratam a cultura e o patrimônio local.
A metodologia central do projeto é a audiodescrição, que transforma elementos visuais em palavras, possibilitando que pessoas cegas ou com baixa visão construam imagens mentais de pontos turísticos, manifestações culturais, gastronomia e aspectos religiosos da capital baiana.
Além da audiodescrição, o projeto planejou a tradução de conteúdos para a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), visando incluir também a comunidade surda. Foram disponibilizadas audiodescrições para 200 imagens da cidade, com 100 delas contando também com tradução para LIBRAS.
A iniciativa recebeu apoio através do Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, da Prefeitura de Salvador e de recursos da Lei Aldir Blanc, provenientes do Governo Federal. Uma equipe de profissionais com experiência em inclusão, incluindo audiodescritores, uma consultora em audiodescrição (Silvânia Macedo, historiadora que é cega há anos), um especialista em turismo e uma intérprete de LIBRAS, colaborou com o projeto. Diversos fotógrafos baianos cederam seus acervos de imagens para a iniciativa. O conteúdo foi divulgado em plataformas digitais como Instagram, Facebook, Twitter, YouTube e um site próprio (salvadorpracegover.com), que foi desenvolvido e revisado por programadores cegos.
O impacto do “Salvador Pra Cego Ver” reside na possibilidade de proporcionar uma nova forma de experienciar a cidade, auxiliando na criação de imagens mentais e na interação com os espaços. A consultora Silvânia Macedo ressalta que a audiodescrição é uma ferramenta importante para que pessoas com deficiência visual se sintam parte do mundo visual. O projeto foi reconhecido pelo Ministério do Turismo como uma iniciativa de turismo acessível e inclusivo.
Inspiração para o Passo Fundo Pra Cego Ver
A repercussão do “Salvador Pra Cego Ver” serviu de inspiração para a criação do projeto “Passo Fundo Pra Cego Ver” no Rio Grande do Sul. A iniciativa gaúcha declara abertamente ter sido inspirada pelo projeto baiano e busca adaptar o modelo para a realidade de Passo Fundo.
O “Passo Fundo Pra Cego Ver” tem como objetivo expandir a inclusão no cenário cultural local, utilizando fotografia e audiodescrição para tornar o patrimônio artístico e cultural da cidade acessível a pessoas com deficiência visual.
O projeto se baseia na Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015), que assegura o direito ao acesso igualitário à cultura. De acordo com o Censo IBGE 2010, mais de 30 mil habitantes de Passo Fundo possuíam algum grau de deficiência visual.
Entre as metas do projeto estão o desenvolvimento de um serviço de audiodescrição para pontos turísticos e rotineiros, o fomento à consciência sobre inclusão social e a criação de parcerias com instituições locais.
Legado e Multiplicação da Acessibilidade
A trajetória do “Salvador Pra Cego Ver” e sua influência na criação do “Passo Fundo Pra Cego Ver” demonstram como práticas de acessibilidade podem ser disseminadas. As duas iniciativas evidenciam a importância da acessibilidade cultural para uma sociedade mais inclusiva.
O projeto de Salvador, através de sua equipe, metodologia e foco nas necessidades do público com deficiência visual, possibilitou uma nova forma de acesso à cidade e serviu de exemplo, incentivando a replicação da iniciativa em outros contextos.
Ambas as ações, cada uma em sua localidade, ilustram o potencial da inclusão.